terça-feira, 3 de junho de 2008

Existe Preconceito?










É hora de ação

No passado, gostávamos de dizer que no Brasil não existia o preconceito, éramos uma ilha de tolerância, o brasileiro era cordial por natureza. Importantes autores chegavam a afirmar que até nossa escravidão foi amena, como se ser escravo pudesse ter algo de ameno...

Hoje, não só não temos mais esta ilusão, como percebemos que o monstro da intolerância pode estar mais perto do que imaginávamos... Identificá-lo, desmistificá-lo, enfrentá-lo com determinação, definir estratégias para combatê-lo: estas são as metas que temos pela frente.

Diante dessas transformações, é preciso combater as atitudes de preconceito e discriminação, seja de cor, etnia, sexo, condição social, religião ou de gênero, estimulando atitudes de tolerância e respeito à diversidade. Por isso, é preciso entender que existe uma multiplicidade de culturas e que nenhuma delas é superior ou inferior à outra. Para respeitar o outro em suas diferença, é preciso conhecer e compreender suas crenças e valores, sua visão de mundo e seu modo de vida.

Para que isto venha a acontecer é muito importante, quase uma pré-condição para que as demais providências frutifiquem o investimento na formação do professor. Enquanto o professor não tiver uma formação neste campo do conhecimento que o habilite não só a transmiti-lo ao seu alunado, mas, sobretudo, leva-lo a compreender o alcance e a gravidade de tais questões, a amplitude de suas conseqüências, enfim uma formação que o estimule a se tornar um aliado dessa causa, pouca coisa poderá ser feita.

Com se vê, a tarefa é imensa e o professor certamente é uma peça essencial nesse processo. Independente da pressão que pode e deve exercer, independente do seu trabalho de desconstrução dos preconceitos que deve ser continuo e sem tréguas, o professor também pode exercer uma ação de valorização dos alunos que pertencem a grupos que comumente são discriminados na sociedade. Nesse sentido, é importante criar um ambiente estimulante e acolhedor para todas as crianças, dando visibilidade a todos os grupos que sempre ficaram à margem do discurso histórico, a exemplo de negros, índios, mulheres, idosos, crianças, homossexuais. Incentivar e dar oportunidade a todos de se manifestarem, de se posicionarem; aproveitar todas as ocasiões para evidenciar de modo positivo o grupo de origem dos alunos.

Somos fruto de uma história pregressa e, construtores e construtoras de uma nova história. A arte de educar para a cidadania, para superar a cultura do preconceito e da discriminação exige desejo, afetividade e determinação de contribuir com um tempo de justiça, um tempo de reparação.

Nesse sentido, o advento da Lei 10.639/03, que inclui o estudo da história e cultura africana e afro-brasileira no currículo do ensino fundamental e médio dos ensinos público e privado, acrescido da lei 11645/08, que contempla a historia e cultura indígena, representa mais um avanço e um importante instrumento pedagógico de apoio aos educadores de todo o Brasil na tarefa e desafio de construção de uma educação transformadora de acordo com o sonho de educadores visionários como Paulo Freire. Uma educação para a diversidade e a cidadania, capaz de projetar futuros cidadãos comprometidos com a construção de uma sociedade brasileira justa, fraterna, igualitária e plenamente democrática.